Por Dra. Mariela Silveira - médica diretora do Kurotel
A tal pergunta ainda está na cabeça de muitos de nós: quando a cura do câncer será descoberta? Sem dúvida, há razão para isto. Especialmente se tivermos o câncer perto de nós, ou dentro de nós. Ao longo dos anos, milhares de vidas sofreram com a doença e sofreram com sua insistência em progredir. Este mal que não conseguia ser curado, somado a grande dose de agonia, era batizado de câncer. Passados anos, este nome foi muito mais ouvido. E é essa mesma palavra que é usada para toda e qualquer célula má formada, seja ela muito agressiva ou pouco agressiva, sem discriminar tratamento ou prognóstico.
É verdade também, que muitos canceres são passíveis do que se pode chamar de cura, no sentido o indivíduo restabelecer um estado de saúde perfeito. Aquelas pessoas que reconhecem a doença em estado inicial, por exemplo, um câncer de colo de útero, pode ser 100% retirado e tratado, sem que haja disfunções para o organismo. Aliás, o diagnóstico muito precoce, para várias situações pode ser sinônimo de cura.É fundamental ressaltar o avanço fantástico que a quimioterapia teve nos últimos anos em cânceres da infância, como leucemias. A chance de sobrevida ficou muito maior e devolveu esperança para muitas crianças e suas famílias.
Além disso, criativas tentativas surgem com a associação da mecatrônica à engenharia genética, como os investimentos no tratamento do câncer feitos pelo Centro de Genoma de Nova Iorque e a IBM.Outras promessas alentadoras surgem com a técnica DICE e a retirada do CD95 cuja eliminação mata a célula cancerosa, com o desarme da proteína CXCL12 para que as células de defesa possam atuar; com a imunoterapia, entre tantas possibilidades.Vale lembrar que fomos educados a crer mais em soluções em pílulas do que em medidas relacionadas a maneira como vivemos. Imaginamos que a cura seja extremamente complicada, difícil e cara, mas nos esquecemos da parcela barata das escolhas que fazemos em nossas vidas.
Este modelo não está sendo satisfatório. Precisamos romper com esse padrão imediatamente e abrir os olhos para a cura do presente! Não estamos falando que todos os cânceres sejam preveníeis, embora proximamente, acreditamos que venham a ser. Para já, no presente momento, podemos falar que grande parte deles podem ser, indubitavelmente, prevenidos ou controlados.Se a ciência já nos trouxe essa notícia, através de enorme quantidade e qualidade de estudos científicos, esses precisos dados não podem ser desperdiçados. Ou melhor, nenhuma vida pode ser desperdiçada por ignorância do conhecimento já existente. Certamente, muito ainda há por vir, mas já podemos usufruir do que temos agora.Assim, maior do que o esforço para curar o câncer, deve ser o esforço para promover saúde.
Quando mais investimentos houver nesta área, maior será a economia posterior, tanto na tremenda redução de custos para os sistemas de saúde, como, principalmente, para a evitação do sofrimento humano. Tirar o estigma do câncer não está somente nas mãos dos cientistas ao descobrirem drogas mais efetivas para impedirem o desenvolvimento de tumores. Está nas mãos de todos nós. Num breve futuro, confio que as pessoas possam usar o conhecimento disponível e quebrar paradigmas através de escolhas que promovam mais saúde e menos cânceres. Desejo que, dentro de poucos anos, este pensamento possa ser considerado óbvio. Que olhemos para traz e percebamos como chegamos a duvidar do impacto do “medicamento” que mastigamos várias vezes ao dia, em nossos cafés da manhã, almoço e jantar; assim como tantos outros “medicamentos-hábitos” que escolhemos dia-dia. Que isto passe logo. Que avance a pesquisa da cura do câncer, que avance nossa cura de hábitos!