Presença, gratidão, flow e amor - saiba como esses conceitos estão interligados e podem beneficiar a sua saúde e a sua vida. Leia mais no artigo abaixo.
Mas é muito mais do que isso. É a relação de não ter apenas o comparecimento físico, mas ter a mente junto ao corpo. Esse sim é o verdadeiro desafio. Quando comecei a trabalhar com a meditação, em 2007, o número de trabalhos científicos sobre a atenção plena ainda era tímido. Mas acreditando no significado das tradições milenares da importância do estar no “aqui e agora” e nos resultados práticos - percebidos em seguida dentro de salas de aula - ficamos convencidos e seguimos. E, atualmente, o volume de estudos sobre a atenção plena é gigantesco e mostram que o verdadeiro estado de presença é importante não apenas para o foco, mas também para a prevenção de doenças cardiovasculares, melhora cognitiva, menor ansiedade e sintomas de depressão, aumento de bem-estar, entre outros.
Os achados mostram ainda que a mente distraída não é feliz. Experimentos encontraram que, quando as pessoas estão pensando em várias coisas ao mesmo tempo, ou estão navegando em redes sociais sem propósito especifico, acabam sentindo tristeza com nível evidentemente maior do que quando estão focadas em atividades com atenção. Em outras palavras, podemos dizer que a só há felicidade quando a atenção. Hoje em dia, com tantas distrações, com tanta disputa pela foco, a atenção virou um luxo, um presente. Estamos dando nosso presente quando estamos com outras pessoas? E a grande pergunta que temos que fazer é: qual a qualidade de ser humano que queremos levar para a nossa vida? Em nossa própria companhia, para todos os lados, para todos os dias? Viver de maneira mindfull é viver de maneira mais plena, mais inteira e principalmente, mais íntegra. É exercitar o olhar de observador, de identificar os pensamentos sem julgamentos, de praticar a honestidade das nossas emoções e de sua coerência com nosso comportamento durante nossa existência.
Essa palavra tem sido cada vez mais usada no nosso dia a dia substituindo um “obrigado”. Logicamente, tem validade na interação social, mas muito mais importante que isso é vivenciá-la profundamente. E diariamente. Quanto temos sido gratos pelas coisas boas que acontecem na vida? Para que isto aconteça, é necessário estar com nível de atenção satisfatoriamente elevado para se reconhecer, com mais lucidez, pequenos momentos de gratidão.A mente estressada poderá encontrar mais dificuldade, se antes não houver o treinamento da calma e da presença. Mas poderá valer a pena, pois pesquisas sugerem que ter este hábito, mais frequente na vida, pode trazer benefícios à saúde.
A pesquisadora da Northwestern University, Judith Moskowitz, observou a relação da gratidão com redução de sintomas de estresse e doenças cardiológicas. Esta equipe também vem testando e desenvolvendo habilidades em pessoas com HIV positivo, diabete, depressão, câncer avançado, cuidadores de pessoas com Alzheimer e as descobertas são bastante promissoras. A psicóloga afirma que, mesmo que a vida esteja muito atribulada com reais dificuldades, sempre há pequenos momentos e situações dignas de agradecimento, como um café quente, um por do sol, o ato de respirar ou um abraço sincero de alguém. E sugere como prescrição clínica, a pratica diária de gratidão. Os mecanismos envolvidos na gratidão ainda não foram bem esclarecidos, mas há melhora de neurotransmissores e de áreas cerebrais relacionadas à empatia e reciprocidade.
A pesquisadora Robertson estudou a população adulta australiana que teve maior sucesso na redução de peso e viu que pessoas com maiores níveis de gratidão e esperança tinham atingido e se mantido no peso saudável a longo prazo.
Uma coisa é certa. Surpreender o cérebro e trazer a emoção de gratidão antes do final do processo de um acontecimento pode facilitar emoções positivas, o engajamento por hábitos saudáveis e o aumento de felicidade.
Falamos de presença e gratidão. Mas há um outro estado refinado de se viver que tem relação com o estado de arte, estado de honestidade com a essência. Mihaly Csikzentmihalyi, psicólogo natural da Croácia, propôs e estudou o conceito de flow - um estado anímico motivado, oposto à apatia, experimentado quando o individuo tem habilidade, somado ao interesse e nível de desafio consideráveis. Este estado de flow pode ser importante para significado de vida e também para os marcadores subjetivos de bem-estar e felicidade. O psicólogo croata percebeu que esse conceito era descrito por diversas profissões, em momentos diferentes da sua trajetória, como quando um pintor faz um quadro belíssimo, quando um poeta consegue a rima perfeita, quando um inventor descobre algo, quando um médico percebe o diagnóstico e o tratamento corretos, quando alguém se sente inspirado e motivado à colocar em prática uma ação igualmente inspiradora.
Existe uma coerência entre o sentir, pensar e agir, muitas vezes com alta velocidade e facilidade. O grau de motivação costuma ser muito elevado assim como a beleza da experiência. Para usufruir do flow, ou do fluxo, naturalmente facilita se o dom ou inclinações e habilidades inatas forem observadas e valorizadas. Entretanto, talentos virtuosos que se cultivem, que tem relação com treinamento, também favorecem a fluidez das emoções positivas. Ou seja, exercitar o dom e entregá-lo à serviço da vida, pode ser uma chave extremamente importante para a felicidade. Quando um ser humano consegue ser sincero com sua verdadeira força interior e compartilha sua aptidão própria e inerente, acaba trazendo diversos benefícios para si mesmo e também para seu entorno. E já que todos temos uma identidade absolutamente única e peculiar, quando esses tesouros aparecem, essas aptidões se multiplicam e impactam positivamente em outras pessoas. Metaforicamente, é como se todos trouxéssemos um medicamento para curar o mundo. Você está entregando o seu em prol da vida?
Como elementos primordiais para a felicidade, pontuamos a presença, a gratidão, o flow.Agora, vamos falar de amor. Sim, porque embora esse tema fosse objeto dos grandes filósofos, só mais recentemente a ciência também tem se debruçado sobre ele. E os achados são fortes e dignos de atenção. A neuroplasticidade é a possibilidade do cérebro se modificar frente a estímulos. E a dimensão do amor relacionado à bondade parece ser a mais efetiva para o cérebro saudável. Um trabalho da UCLA, da Califórnia, sugere que o Mindfull Self- Compassion (meditação baseado na auto-compaixão) pode ser eficaz para veteranos de guerra, na melhora das dores crônicas e o contentamento. A pesquisadora Sara Lazar, de Harvard, descobriu que o mindfulness praticado diariamente por oito semanas é capaz de reduzir uma área do cérebro chamada amigdala (envolvida com o medo, ansiedade e estresse).
Além disso, ele também é capaz de aumentar quatro outras áreas, entre elas a junção temporo-parietal, relacionada a empatia e compaixão. Todos os participantes do estudo elevaram seu níveis de felicidade e bem-estar. O pesquisador Richard Davidson, junto com seus colaboradores, estudou pessoas felizes e seus cérebros. Eles perceberam a nítida relação entre felicidade e altruísmo. E isso foi identificado em grandes meditadores, como Dalai Lama e monges budistas mas, surpreendentemente, também em pessoas com histórias difíceis, que sofreram traumas terríveis na vida, mas desenvolveram resiliência e pratica de auto-compaixão.Por isso, trago uma mensagem que aprendi com pessoas – de diferentes classes, etnias e culturas - em 25 anos de Medicina: a felicidade está guardada dentro do amor! Pode ser para si, para a natureza ou para o entorno, mas não há outra local. Embora o dicionário diferencie essas palavras, uma não vive sem a outra.
Dra. Mariela Silveira
Diretora médica do Kurotel – Centro Contemporâneo de Saúde e Bem-Estar. Pós-graduada em Nutrologia pela Universidade de São Paulo e Especialista em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia; Pós-graduada em Acupuntura Médica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Pós-graduada em Terapia Cognitiva no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Presidente da ONG Mente Viva. Embaixadora do Global Wellness Day Brasil.