A médica Mariela Silveira, nutróloga e diretora clínica do Kurotel, dá orientações e esclarece dúvidas sobre o tema.
Embora o termo Super Alimentos seja atrativo, a médica nutróloga não acredita exatamente neles – ou superfoods, como também são conhecidos. “Todos os alimentos, em suas formas naturais, têm componentes importantes e, quando bem utilizados, podem ser considerados como “grandes comidas”. Geralmente, o termo Super Alimento é utilizado pra representar alimentos funcionais – aqueles que, além de seus nutrientes, trazem benefícios significativos para a saúde” explica Mariela.
Segundo a médica, por muitos anos, a Nutrição e a Medicina focaram em aspectos como tipo de alimento e valor calórico. Portanto, era comum aconselhar uma alimentação balanceada em macronutrientes, como carboidratos, proteínas e lipídios. No passado, o conhecimento sobre os componentes dos alimentos já existia, mas os estudos sobre a repercussão no organismo ainda eram limitados. “Ou seja, era mais valorizado o alimento por si só, mas fora do organismo” afirma Mariela. Nas últimas duas décadas, a partir de novos olhares sobre os alimentos, o resultado dele dentro do organismo ficou mais claro e, então, os micronutrientes passaram a ser mais valorizados.
Mariela explica que os bioativos são compostos presentes em alguns vegetais, animais ou alimentos sintetizados, que podem influenciar uma função de uma célula ou tecido.Esses compostos podem contribuir na redução do risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, inflamações, doenças cardiovasculares, catarata e outras.
Existem alguns alimentos que podem ter uma especial influência na estética. “Nossa pele, por exemplo, é formada por nutrientes. Assim, o papel da alimentação para a constituição e proteção da pele, unhas e cabelos é enorme”, afirma a nutróloga. Alguns nutrientes são fundamentais, como aminoácidos e vitamina C, que ajudam na produção de colágeno. Já o complexo B, a vitamina A, a vitamina D e o ácidos graxos ômega 3 atuam na proteção contra câncer de pele, entre outros. É importante consumir uma dieta variada, com vegetais e frutas para se aumentar o nível de antioxidantes no organismo. Além disso, minimizar ao máximo o consumo de conservantes e aditivos químicos.
Segundo Mariela Silveira, “ainda há falta de consenso no meio médico. Especialmente as nomenclaturas como superfoods ou Super Alimentos, embora sejam interessantes para estimular as pessoas ao consumo de alimentos saudáveis, não estão dentro das diretrizes alimentares”. No que diz respeito a alimentos funcionais, o consenso já é maior. No Brasil, por exemplo, a ANVISA define regulamentos do que é necessário para um alimento ser considerado funcional.
A médica nutróloga recomenda alimentos (de preferência orgânicos) que a maioria das pessoas pode consumir com regularidade, que são de baixo custo e facilmente encontrados.
Segundo a Dra. Mariela, a “febre” da Kombucha e do Kefir se deve, provavelmente, porque a maior parte da população tem um péssimo equilíbrio intestinal, no que diz respeito a bactérias positivas.“Se as pessoas ingerissem uma quantidade razoável de frutas, verduras e legumes (pelo menos sete ao dia) e evitassem um consumo excessivo de carnes e de processados possivelmente teriam, naturalmente um equilíbrio mais adequado”, afirma. Como isto não acontece, para boa parte das pessoas, é de fundamental importância adicionar alimentos pre e probióticos no dia a dia.
A nutróloga explica que prebióticos são alimentos para as bactérias saudáveis, que não são absorvidos no trato gástrico superior, mas que serão metabolizadas no intestino (como algumas fibras presentes na alcachofra, chicória e batatas, por exemplo). Já os probióticos são micro-organismos vivos que fazem podem fazer parte da microbiota intestinal saudável (encontrados no iogurte, kefir, e outros fermentados, por exemplo). Desta forma, podem ser encontrados naturalmente nos alimentos, ou ainda, podem ser produzidos intencionalmente a partir da fermentação de alimentos.
Esses alimentos fermentados, como o Kefir e a Kombucha, contribuem para a regulação do PH intestinal e para a microbiota intestinal saudável, reforça Mariela.
O Kefir ou a Kombucha precisam ser preparados em ambiente limpo e é preciso evitar qualquer tipo de contaminação. A Dra. Mariela reforça que pessoas que não estão habituadas a ingerir tais alimentos, devem iniciar com dosagem muito pequena (aproximadamente, duas colheres de sopa pela manhã). O uso excessivo, assim como acontece com o probiótico sintético, pode provocar gases ou alteração do habito intestinal – constipação ou diarreia – em algumas pessoas. A Kombucha, na maioria das vezes, é feita com Camelia sinensis que pode conter cafeína. Assim, para pessoas que sensibilidade à cafeína, é importante evitar o consumo da bebida durante à tarde e à noite.
Mariela Silveira explica que existem muitos estudos sobre esses alimentos, nas mais diversas especialidades médicas. Entretanto, até agora o que foi mais estudado é o probiótico na forma sintetizada, em cápsulas: “Existe um elevado nível de evidencias para melhoras de dermatites (especialmente atópicas), bem como para proteção de infecção urinária de repetição”, afirma a médica. Os trabalhos científicos também sugerem que o probiótico pode contribuir no aumento da imunidade, mas mais estudos ainda precisam esclarecer condições e quantidades. Ela reforça ainda que para saber, exatamente, qual a prescrição ideal para cada pessoa, é necessário o acompanhamento do médico ou nutricionista.
Outra tendência gastronômica é o pão de fermentação natural, com levain. Ele também traz benefícios ao corpo e pode ser colocado na lista informal de Super Alimentos. "Da mesma forma que acontece com o Kefir e o Kombucha, o processo de fermentação faz com que a tolerabilidade da farinha, para algumas pessoas, possa ser dada de maneira melhor", afirma Mariela.